A primeira contribuição considerada mais relevante do conceito de enquadramento na comunicação foi dada por Tuchman (1978). As notícias são um recurso social cuja construção limita um entendimento analítico da vida contemporânea. (TUCHMAN apud PORTO, 2004a, p. 79). O enquadramento imposto pelas notícias é definido e construído pelos fatos reais.
Ainda em formação, a teoria do enquadramento, frame ou framing, tem como objetivo estudar a forma que os meios de comunicação de massa enquadram para os receptores o conteúdo agendado pela mídia. Tudo isso é feito por meio dos jornalistas na escolha dos temas durante a construção de seus textos.
O conceito de enquadramento é um avanço considerável na análise de conteúdo das mensagens da mídia e das notícias (GUAZINA apud BRITO, 2007, p. 19).
Os enquadramentos são princípios de organização que governam os eventos sociais e nosso envolvimento neles (GOFFMAN apud PORTO, 2004a, p. 78).
Para Goffman (1986), enquadramentos funcionam como marcos interpretativos mais gerais, que são construídos socialmente permitindo que as pessoas deem sentido aos eventos e as situações socais (PORTO, 2004a).
Gutmann (2006) explica como o conceito de framing tem sido usado para argumentar de que maneira os enquadramentos dados aos temas agendados pela mídia impactam nos quadros de referência utilizados pelo público na interpretação dos assuntos. Segundo a definição de Shen (2004), a opinião pública e suas interpretações sobre eventos agendados pela mídia podem ser moldadas pelo enquadramento (IYENGAR apud GUTMANN, 2006, p. 31).
O enquadramento deve ser considerado como um instrumento para que o papel da mídia na construção do que é real possa ser examinado de forma
empírica (TANKARD apud PORTO, 2004a, p. 76). A partir da idéia de que o framing envolve seleção e ênfase, Entman (1993) afirma que enquadrar é eleger alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, promovendo uma definição de problema particular, interpretação causal, avaliação moral e/ou um tratamento recomendado para o item descrito.
Para o autor, “o enquadramento de uma notícia é realmente uma impressão de poder”, ou seja, o framing armazena a identidade dos autores ou dos interesses que competiram no ato de dominar o texto (ENTMAN, 1993, p. 5).
Os esquemas de processamento de informação, a exemplo da construção do conteúdo jornalístico através de uma “embalagem” particular, são caracterizados pelo framing (ENTMAN apud GUTMANN, 2006, p. 52).
Correia (2011) aponta o formato de enquadramento usado por alguns profissionais de comunicação: o enquadramento estratégico. Políticos, bloggers, editoralistas e líderes de opinião são apontados utilizam a estratégia do enquadramento como forma de execre poder e influenciar sobre as audiências para elas aceitarem as interpretações para favorecer seus interesses e objetivos. (CORREIA, 2011, p. 51).
Com amplas definições do enquadramento, Gitlin (1980) destaca de forma clara e sistemática o seu conceito para a teoria (apud PORTO 2004a, p. 80):
Os enquadramentos da mídia [..] organizam o mundo tanto para os jornalistas que escrevem relatos sobre ele, como também, em um grau importante, para nós que recorremos às suas notícias. Enquadramentos da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o discurso, seja verbal ou visual, de forma rotineira. (GILTLIN, 1980, p7) (tradução do autor).
O jornalista tem o poder nas mãos ao transmitir um acontecimento ao público. Entman (1993) determina quatro funções para o enquadramento: definir problemas, diagnosticar causas, fazer julgamentos morais e sugerir soluções. “Os comunicadores fazem enquadramentos intencionalmente ou inconscientes decidindo o que dizer, guiados pelos frames (chamados frequentemente esquemáticos) que organizam seus sistemas de opinião” (ENTMAN, 1993, p. 52). “O enquadramento determina se a maioria das pessoas percebe e como elas compreendem e lembram de um problema, da mesma forma que determina a maneira que avaliam e escolhem a forma de agir sobre ele” (ENTMAN apud GUAZINA, 2001, p. 275).
Correia (2011) considera que os enquadramentos (frames) são avaliados com o auxílio das analogias dos enquadramentos na imagem (fotográfica, cinematográfica, etc). Para o autor, a escolha da inclusão ou a exclusão desses mecanismos ajudam no enquadramento dado pelos veículos. O enquadramento é usado como um tipo de mensagem para ordenar ou organizar a percepção do observador (CORREIA, 2001, p. 49).
Colling (2002) considera que o poder do framing analisado por Entman (1993) é a forma de pensar o mundo, o que faz o enquadramento ser uma ferramenta empregada por aqueles que têm poder para transmitir o seu jeito de pensar para os demais. Para o autor, o framing é como temos que pensar os temas já estabelecidos pela agenda.
Outros elementos também devem ser analisados no estudo do framing, a exemplo dos atores envolvidos, além de quem tem o poder de resolver o problema, palavras-chave, conceitos, símbolos e imagens visuais que estão presentes nos textos jornalísticos (COLLING, 2002, p. 115).
Duas classificações de enquadramento são sugeridas por Porto (2004b, p. 69): o interpretativo e o noticioso. Para ele, pode se considerar como interpretativo quando padrões de explicação de temas e/ou eventos políticos a partir de agentes sociais e políticos externos à prática jornalística são avaliados de maneira particular. A mídia pode ou não incorporar as interpretações em um contexto mais amplo.
O enquadramento identificado como noticioso configura aos padrões de apresentação, seleção e ênfase feitas pelo jornalista nos textos jornalísticos. Ao analisar coberturas de campanhas de jornais, o autor observou que a classificação proporciona uma reflexão para descobrir em que medida a mídia enfatizou temas ou se concentrou nas estratégias dos candidatos e nos resultados de pesquisa de intenções de voto (PORTO, 2004b, p. 71).
O autor afirma que,
o conceito de enquadramento permite entender o processo político como uma disputa sobre qual interpretação prevalecerá na formação, desenvolvimento e resolução de controvérsias políticas. O conceito permite ainda ressaltar como estas controvérsias se desenvolvem, não através da apresentação de “fatos” ou “informação”, mas sim através de interpretações que são utilizadas para avaliar estes eventos ou temas políticos (PORTO, 2002, p. 93).
Para o pesquisador, no Brasil, o enquadramento é utilizado diversas vezes pelos estudiosos com o intuito de fazer uma análise das relações entre mídia e política, a exemplo de coberturas e campanhas eleitorais, além da mídia e movimentos sociais comparando o jornalismo político brasileiro com o feito em outros países.
Cinco elementos são destacados na identificação do enquadramento durante uma reportagem – palavras-chave, metáforas, conceitos, símbolos e imagens enfatizadas na narrativa jornalística (Entman apud Gutmann, 2006, p. 32). No telejornalismo, essas características são mais evidentes, quando o framing pode ser identificado pela observação de imagens visuais, além exposição de palavras repetidas no texto midiático com o objetivo de deixar mais visíveis algumas idéias no lugar de outras.
O campo da psicologia cognitiva também é outra fonte importante sobre enquadramento. Kahneman e Tversky (apud PORTO, 2002a, p. 79)conduziram os conceitos atribuindo que as mudanças na formulação de problemas podem causar variações significativas nas preferências das pessoas. Eles sugerem que a manipulação da informação factual e o enquadramento dado às informações podem alterar os resultados no processo de formação de preferências.
O impacto dos framings da mídia, na forma da interpretação e da discussão feita pelo público, é objeto de estudo de diversos pesquisadores, como Gamson e Modigliani (apud GUTMANN, p. 35). Segundo os autores, a
quantidade de dispositivos utilizados no conteúdo midiático contribui para indicar a existência da embalagem do fato reproduzido para a audiência. “As notícias televisivas são repletas de metáforas, frases de impacto e outros símbolos destinados a oferecer um modo mais curto e frágil de construir a narrativa” (GAMSON e MODIGLIANI, 1989, p. 153 apud GUTMANN, 2006, p. 35).
Becker (2006) considera que a questão da democratização de um país não se coloca apenas na esfera da agenda oficial, também se evidencia na força de organização e expressão de grupos e movimentos sociais. O campo da comunicação transcende os estudos dos meios e pode produzir um conhecimento específico sobre a sociabilização e a produção de sentidos na atualidade, decorrente dessa nova realidade histórica. Os serviços da indústria da comunicação, a regulação da mídia e as novas tecnologias de informação deveriam atender prioritariamente ao interesse público, privilegiando o conhecimento e não apenas o mercado. Se os cidadãos não têm acesso à diversidade de opiniões e interpretações, o dilema da democracia não tem solução.
Porto (2002) divide o enquadramento em quatro tipos de enquadramento que permitem identificar como a mídia “contribui para privilegiar determinadas interpretações hegemônicas da realidade”: o restrito, os plurais - aberto e fechado - e o episódico. (PORTO, 2004b, 70). Para o autor, esta análise funciona de maneira sistemática a recepção e os efeitos do enquadramento (PORTO, 2002, p. 97).
Para o enquadramento ser considerado restrito, o texto tem uma única interpretação do veículo de comunicação sobre o fato. Plural-fechado quando tem mais de uma interpretação e uma delas ser privilegiada e apresentada como mais correta. No casal de plural-aberto, são apresentadas mais de uma interpretação, sendo que nenhuma das opções são confirmadas como mais válida (correta). O enquadramento é episódico no momento em que ocorre o texto não possui interpretação. Neste caso, o texto se limita em relatar o fato apenas. O estilo escolhido é o descritivo. (PORTO, 2002, p. 93).
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