domingo, 5 de junho de 2011

Podcast sobre festas populares religiosas baianas


No primeiro episódio do podcast Sagrado e Profano, será contada a história das festa populares em Salvador mostrando as mudança que ocorreram ao longo dos anos.

O segundo episódio explica, de forma poética, as características das festas populares em Salvador.

Visite o site e baixe os dois episódios para ouvi-los.

Enquadramento do Correio da Bahia sobre a lavagem do Senhor do Bonfim no dia 14 de janeiro

No enquadramento do dia 14 de janeiro de 2011, um dia após a festa do Senhor do Bonfim, o Jornal Correio da Bahia fez uma grande reportagem no Caderno MAIS na Editoria Salvador Festas Populares.

As matérias foram feitas pelos jornalistas Anderson Sotero, Léo Barsan, Bruno Menezes e Priscilla Chamas, nas páginas 24, 25, 26 e 27 da Editoria Salvador Festas Populares.

A matéria principal foi assinada pelo jornalista Anderson Sotero, cujo título “8 km de pagode” tem um relevante e curioso destaque. O jornalista do Correio teve uma grande criatividade com o título, que a primeiro momento achamos que a festa do Senhor do Bonfim teve 8 km de percurso tocando musica de pagode, mas os 8k de pagode que o jornalista fala, refere-se ao jegue pagode, que foi o único animal a desfilar na festa, mesmo contraposto a proibição do juiz.

Na matéria também consta uma foto de uma mulher dançando pagode, feita pela jornalista Marina Silva em que legenda fala que o pagode foi o ritmo da festa, assim como o jegue pagode, o único animal da festa. Existe ainda na matéria mais outra foto em destaque com o jegue pagode e seu dono Moisés rodeado de baianas, onde o jegue desfilou no chão só com um chapéu e uma gravata do Esporte Clube Bahia.

Na legenda da foto, destaca que alheio à polêmica, o jegue pagode fez todo o percurso do trajeto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até a Colina Sagrada. A manjedoura criada pelo dono, como relatamos na matéria do dia 11 de janeiro, foi apreendida logo as 06h30 da manhã no dia da festa.

Segundo a liminar que saiu no dia 10 de janeiro, dada pelo Juiz Ruy Eduardo Almeida Brito da 6° Vara da Fazenda Pública da Bahia, estaria estritamente proibido a participação de carroças conduzidas ou puxadas por animais na festa que celebra o Senhor do Bonfim, que segundo o juiz essa decisão foi tomada para que os animais não fossem maltratados durante o percurso. Mas o dono do jegue Pagode conseguiu burlar a fiscalização escondendo o animal em uma das transversais na Rua do Museu do Ritmo. Em seguida, Moisés, sua mulher e um amigo conseguiram arrumar uma “brecha” e populares fizeram uma corrente humana e conseguiram colocar o jegue pagode no meio do percurso.

O cortejo contou com cerca de 500 baianas e um milhão de pessoas segundo estimativas da Polícia Militar, mas mesmo assim Moisés Cafezeiro conseguiu colocar o jegue pagode no meio do percurso. Eles ainda tiveram o seu trajeto interrompido por três vezes nos bairros de Água de Meninos, Mares e perto do Largo de Roma, mas foram liberados e continuaram o percurso ate o final.

No lado profano da festa, o ritmo do pagode foi o que mais teve destaque entre os foliões, em paralelo ao nome do jegue mais famoso da festa. Moisés afirma na matéria que a sua intenção em levar o jegue pagode a festa era protestar contra a decisão do juiz da 6° vara da Fazenda Pública e não em gerar polêmica ou tumultuar a ardem pública. Ele afirma que a população tem que preservar todas as tradições da Bahia que estão acabando a cada geração e que o jegue é o símbolo da resistência da festa do Senhor do Bonfim.

No intertítulo “Fiscalização” o jornal fez uma matéria mostrando o lado da fiscalização da festa, em que apesar de Cafezeiro ter relatado que teve a manjedoura apreendida e ter conseguido desfilar na festa, a Secretaria Municipal de Saúde informou através de nota oficial, que técnicos da Vigilância Sanitária e do Centro de Zoonoses realizaram na manhã do dia 13 de janeiro de 2001, no dia da festa, uma fiscalização no cortejo da Festa do Senhor do Bonfim com o objetivo de evitar abusos e maus-tratos aos animais e que não constaram a presença de nenhum animal durante a festa. A presença do jegue Pagode, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, foi um fato isolado.

A ação contou com a utilização de um caminhão boiadeiro, que seria utilizado se por acaso tivesse havido algum animal na festa. A Procuradoria Geral do Município informou que para o ano de 2012, buscará uma solução viável para a questão dos animais na festa, para que não houvesse tanta polêmica como foi no ano de 2009 e 2010. Na matéria a Polícia Militar informou que não houve nenhum tipo de apreensão, nenhuma ocorrência de animais durante a festa.

Na matéria mostra também que a proibição da participação dos animais puxando as carroças nas festas dividiu as opiniões. O artista Bira do Jegue relata na matéria que acha uma falta de respeito proibir os animais na festa, pois o desfile é uma tradição de mais de 200 anos.

O jornal fez uma grande reportagem neste dia, pois conseguiu destrinchar toda a história em torno da proibição dos animais na festa, nas matérias feitas antes e depois da festa. Percebemos que nessa matéria o jornal Correio da Bahia fez uma grande cobertura jornalística do que aconteceu no dia da festa do Senhor do Bonfim e o desfecho da polêmica que estava assolando a cidade nos últimos sete dias.

O jornal ouviu as duas partes envolvidas na questão e deu um livre acesso para ambos expressarem as suas opiniões. Em pesquisa feita pelas docentes, o principal concorrente do Correio da Bahia, o jornal A Tarde, deixou a desejar nessa questão apenas relatando que os animais não participaram da festa, mas foi o jornal Correio da Bahia que no dia, fez uma grande cobertura jornalística sobre a questão.

Na matéria secundária feira titulada “Mais de um milhão participaram do cortejo, diz PM” o jornal deu destaque à fé da população na caminhada do Senhor do Bonfim, em que mais de um milhão de baianos e turistas participaram da festa segundo a polícia militar. O jornal enfatizou que um dos pontos altos da festa foi quando antes da procissão, foi feito um ato inter- religioso por representantes católicos, espíritas, protestantes e representantes do candomblé e do hinduismo em grande uma grande corrente de pedido de paz.

O jornal destacou também a questão entre o sagrado X profano, onde mostra na entrevista uma mulher reclamando que o marido oito horas da manhã estava bebendo em vez de ir para a Igreja reverenciar o padroeiro de sua cidade. O jornal nessa matéria destacou a questão que é muito discutida na festa do Senhor do Bonfim, em que os jovens não participam da festa sagrada, somente participam da festa profana.

Na matéria secundária feita pelo jornalista Léo Barsan, titulada “Momento de emoção com baianas no Bonfim”. A matéria mostra um dos grandes momentos da Festa do Senhor do Bonfim: a lavagem das escadarias da Igreja feita por baianas. Dezenas de baianas lavaram o adro e as escadarias da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, no final da manhã do dia 13 de janeiro de 2011.

A matéria enfoca nos relatos dos fiéis que amarraram à fitinha do Senhor do Bonfim no adro da igreja e pediram a benção do padre na porta da Igreja. Merece destaque também na matéria uma senhora, a aposentada Lurdes Novais de 71 anos, que há 59 anos faz a caminhada ate a Igreja do Senhor do Bonfim.

Nessa matéria o jornal dá um grande destaque à parte sagrada da festa, onde pessoas se apertam no meio da multidão para receber a benção do pároco Edson Menezes da Igreja do Senhor do Bonfim, para receber a benção do padre.

Na matéria tem em destaque uma foto feita pela jornalista Marina Silva, onde tem duas baianas lavando as escadarias da igreja do Senhor do Bonfim, um dos pontos altos da festa. Percebemos nesta matéria feita pelo Correio, uma questão já levantada neste trabalho, que infelizmente só as pessoas mais velhas participam da parte sagrada da festa. Os jovens geralmente, só participam da festa profana.

Em outra matéria secundária, titulada “Turistas estréiam na festa e registram tudo”, feita pelo jornalista Bruno Menezes mostra em destaque depoimentos de turistas que participaram pela primeira vez da Festa do Senhor do Bonfim e alguns que já são veteranos. Na matéria tem uma foto do jornalista Evandro Veiga, de uma turista alemã que levou uma câmera filmadora na cabeça para registrar todos os fatos da festa. O jornal evidencia na matéria, o perigo que a turista alemã estaria sofrendo com esta filmadora na cabeça, sabendo-se que em toda festa popular existem aqueles que vão para se divertirem e outros que vão para praticar crimes.

A quinta e última matéria da edição dia 14 de janeiro, titulada “ Só Faltou João” o jornal deu destaque a participação dos políticos baianos durante o cortejo em direção a Colina Sagrada. A reportagem começa com um tipo de ironia afirmando que os políticos são devotos do Senhor do Bonfim desde pequenininhos. Eles aproveitam o momento para mostrar toda a simpatia para o povo baiano que acompanha a festa.

Um dos principais temas da matéria foi a ausência do prefeito João Henrique em um momento de crise do município, por isso o título da matéria ser “ Só faltou João”. A participação em um encontro de ministros na ocasião foi dada como justificativa pela assessoria do prefeito.

A desculpa não foi bem aceita pela população que protestou, como sempre durante todo o trajeto. Em protesto a desapropriação de algumas casas, um morador do bairro de Roma e líder comunitário levou uma placa.

Foi apontada que independente do motivo da ausência do prefeito na festa, a administração municipal esteve representada pelo vice-prefeito Edvaldo Brito, na solenidade na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Durante o cortejo, o político acompanhou integrantes de seu partido, o PTB.


A participação de Jaques Wagner e de sua esposa, Fátima Mendonça, foi ressaltada pela ausência do prefeito. Em tom de crítica, o governador apontou que, “quem está na política tem que ter coragem de se expor, vir aos festejos populares, receber cumprimentos e críticas também”. Demonstração da rivalidade política.

O governador não perdeu a oportunidade de comentar a catástrofe relacionadas com as chuvas no Rio de Janeiro, que teve mais de 300 vítimas fatais. A fé em Senhor do Bonfim foi utilizada para mostra solidariedade com o povo carioca.

A política foi realmente o ponto forte da reportagem. Mais uma vez o tema ausência do prefeito foi lembrado. O deputado Gedel Vieira Lima do PMDB participou de uma parte do cortejo, mesmo tendo que sair às pressas para o aeroporto com destino a Brasília. O político foi para o mesmo encontro de ministro que João Henrique utilizou como desculpa para não estar em Salvador no dia.

Até mesmo um encontro com o vice-presidente do Brasil, Michel Temer foi citada na matéria. Mas, o parlamentar não comentou o tema o que seria conversado. O suspense tomou conta desse trecho. Os planos políticos de Geddel em 2012 também não foram revelados.

A foto do governador do Estado beijando a primeira-dama compõem o destaque da participação política, além das imagens de peemedebistas e da tradição religiosa de César Borges (PR).

Outro político que também não quis comentar sobre uma possível candidatura à prefeitura de Salvador foi o deputado federal Nelson Pelegrino (PT). Ele desconversou ao afirmar que o tema ainda seria decidido pelo partido.

O senador César Borges foi o único que esclareceu sua situação abertamente. O político foi categórico ao dizer que em seus planos não está a disputa pela prefeitura. De acordo com o texto, para ele a presidência do PR é suficiente.

Para mudar de assunto, ele disse que considera o momento da caminhada uma demonstração de fé popular e não político.

Antonio Carlos Magalhães foi lembrado nesta edição. A lembrança do fundador recebeu destaque na página que finalizava o tema Lavagem do Bonfim na edição do dia 14 de janeiro. O título que encabeçou a matéria foi Na liderança do bloco oposicionista, Neto relembra o avô.

O deputado federal ACM Neto (DEM) recordou que seu avô não perdia a festa, uma marca forte na celebração. Ele citou que começou a ir ao Bonfim com ACM quando era criança. O contato com a população foi revelado como umas das características positivas do ato.



O senador Antonio Carlos Júnior (DEM) também ressaltou a lembrança do pai, principalmente durante as festas populares, momento em que ele sempre estava presente. O jornalista destacou que quando o mandato acabar ele se dedicará às atividades empresariais não mais a política.
Novamente, a provável candidatura à prefeitura de Salvador foi mencionada.

ACM Neto, como outros políticos, também se esquivou de qualquer declaração que aponte sua candidatura ou não, em 2012. No entanto, o deputado José Carlos Aleluia (DEM) falou abertamente que o partido tem interesse em conversar com Neto, Geddel e César Borges. Segundo ele, todos que são contra o desgoverno de João Henrique.

A foto ilustrativa mostra ACM Neto acenando para a população ao lado de políticos aliados e de uma baiana.

O enquadramento totalmente político nesta matéria evidencia que a opinião de que a cobertura da Lavagem do Bonfim tem como um dos focos colher informações dos próximos passos que envolvem os políticos baianos seja no âmbito municipal ou federal.

Também foram atores João Almeida (DEM), Elmar Nascimento (PR), Bruno Reis (PRP), Tom Araújo e Herbert Barbosa, ambos do DEM, César Borges (PR) e Maurício Trindade (PR). Com isso, o Correio tenta mostrar que a oposição tenta se manter presente.

No enquadramento da primeira grande reportagem no dia 14 de janeiro, ficou claro que apesar do destaque da festa do Senhor do Bonfim ter sido a questão da proibição dos animais na rua, o jornal Correio da Bahia fez uma grande reportagem mostrando todos os momentos altos da Festa do Senhor do Bonfim, deixando o leitor bem informado de tudo aconteceu naquela quinta – feira, do 13 de janeiro de 2001 e também mereceu um grande destaque aos políticos que participaram na festa, sendo o ponto ápice a ausência do prefeito de Salvador, João Henrique. Os movimentos pré candidatura a Prefeitura de Salvador em 2012 e o saudosismo a ACM.

Enquadramento do Correio da Bahia sobre a lavagem do Senhor do Bonfim no dia 13 de janeiro

Em 13 de janeiro, dia da Lavagem do Bonfim, o Correio deu destaque, mais uma vez, como nos dias que antecederam a maior festa religiosa da Bahia, para o problema da proibição dos jegues e outros quadrúpedes no festejo.

O texto é iniciado de forma a demonstrar que os animais são respeitados. Que o carroceiro Móyses Cafezeiro iria puxar a carroça no lugar de seu jegue, Pagode. Além disso, a matéria trata da liminar que proíbe a participação de carroças conduzidas ou puxadas por animais.

Novamente, o dono do animal expressou descontentamento sobre a decisão de Justiça, relatando que iria puxar o jegue Pagode nos oito quilômetros do percurso da festa. Um detalhe nos chamou atenção: o mesmo juiz que concedeu a liminar que impedia a participação dos bichos também gosta da presença deles. Contradição colocada à prova na matéria. O juiz ainda ressaltou a necessidade de fiscalização, justificando, assim, sua decisão.

Em defesa dos jegues e de outros animais, o cantor Luís Caldas opinou a favor dos ambientalistas. O artista considera que os bichos não escolhem ir para a festa porque são levados pelos donos.

Em um intertítulo, os jornalistas tentaram explicar o que fica previsto com a liminar. A decisão prevê prisão imediata para as pessoas que levassem animais à procissão, além de multa de R$ 90 mil. Se fosse pego maltratando os bichos, o infrator deveria ser preso podendo chegar a cinco anos de reclusão.

Uma explicação necessária aos leitores. No trecho fica evidente, de forma muita clara, a explicação da penalidade.

Quando o assunto é a fiscalização dos possíveis maus tratos, o foco se vira para a Prefeitura, através da Saltur, como órgão responsável por isso. A responsabilidade também poderia cair sob a Prefeitura caso a liminar fosse descumprida.

A PM foi incluída no processo para contribuir na fiscalização em todo o percurso e o MP. Mesmo informando que não teria sido notificada, a promotora do MP designada para o caso, demonstrou estar atenta o caso e bem informada por meio dos jornais.

Neste trecho, o enquadramento muda um pouco, apesar de ainda se referir à administração municipal. Os detalhes de que a Prefeitura, através da Vigilância Sanitária e o Centro de Zoonoses, ainda contariam com o auxílio da Transalvador e PM na fiscalização apontam para a eficiência do poder municipal. Fica evidente que a intenção era mostrar que as medidas judiciais seriam cumpridas por todos os envolvidos no impedimento dos animais na festa, comprovando a competência.

A história de uma senhora que não participava da festa há 30 anos foi o alvo do segundo texto do dia. Tradição, lembranças e o saudosismo destacaram que o simples gesto de amarrar as famosas fitas nas grades da Igreja do Bonfim pode ter um significado importante na vida dos fiéis.

Mesmo morando no Rio de Janeiro há tanto tempo, Dona Marilda, personagem principal da matéria, relatou que não viu mudanças significantes na festa. Ela ainda destacou que o local trazia lembranças dos momentos felizes passado ao lado de seu marido, falecido há pouco tempo. Ele não se esquecia da igreja. A visita também a fez recordar que sua filha mais velha foi batizada na Igreja do Bonfim.

O foco deste texto saiu dos jegues e carroceiros e toda proibição que girava em torno do tema, se voltando para o tradicionalismo e manutenção da fé, mesmo hoje a baiana voltando como turista.

No final, há prova de que nem o tempo apaga a tradição de uma baiana que vivenciou os momentos mais fortes da Festa do Bonfim: Dona Marilda amarrou uma fita para desejar saúde ao mais novo neto que esperava.

Outro tema encontrado nesta edição foi os preparativos das baianas de acarajé que participam tradicionalmente da Lavagem do Bonfim.

O cuidado das baianas com todo o processo para o dia da lavagem foi contado no pequeno texto.

Para perfumar todo o percurso com água de cheiro, as baianas compram os ingredientes na Feira das Sete Portas, para o banho de Amaci (ervas e das flores). Os ingredientes utilizados na manhã do cortejo são mirra, manjericão, folha da costa, arruda e macaçá. Tudo misturado a água da bica em uma bacia para abrir os caminhos e “descarrego”, uma forma de retirar as más energias. Segundo o texto, a água deve despejada sob o corpo após tomar o banho comum.

A baiana participa há mais de 20 de anos da festa. Ela relata que a ansiedade é tão grande que nem consegue dormir direito no dia anterior a Lavagem, com receio de perder o horário.

Os textos desta edição contribuíram para mostrar que a Lavagem do Bonfim mobiliza diversos segmentos da sociedade, como o poder público, no caso da proibição dos animais puxando carroças enfeitadas, baianas que lavam as escadarias da igreja e baianos que retornam com toda fé no Senhor do Bonfim.

O sagrado X profano também foi levado em consideração nesta edição, ao demonstrar que diversas religiões participam da festa, como prova do ecumenismo que rodeia o ato.

Enquadramento do Correio da Bahia sobre a lavagem do Senhor do Bonfim no dia 11 de janeiro

No dia 11 de janeiro de 2011, dois dias antes da festa do Senhor do Bonfim, no caderno Mais, página 16 o jornal fez três matérias sobre a festa do Senhor do Bonfim.

A matéria principal assinada pelo jornalista Alexandre Lyrio, “Arte de Jegue” o seu título teve um relevante destaque. A matéria começa com o sub-lead “Homem vai puxar jegue na lavagem. Artistas apóiam carroceiros”, onde o jornal quis mostrar a criatividade dos carroceiros e donos dos animais, que fazem com que o desfile deixe a festa divertida e irreverente.


Na matéria, a equipe de divulgação do jornal fez uma charge em que um homem puxa o famoso jegue Pagode, que é transportado sobre um carrinho alegórico ao longo dos 8 quilômetros de percurso ao lado de duas beldades abanando suas orelhas e oferecendo-lhe comidas.

A charge do jornal mostra a grande criatividade dos carroceiros, onde o dono do jegue pagode, Moisés afirma que sua carroça será exatamente como foi à charge, o jegue Pagode ficará em cima de um carro alegórico, sendo bem tratado para mostrar que os animais não são maltratados durante a festa. A idéia dos carroceiros e donos de jegue é fazer um protesto bem humorado contra os ativistas ambientais que lutam pela proibição dos animais da festa.

Com essa charge feita por diagramadores do jornal, percebemos que o Correio deixou bem claro que eles indiretamente estão a favor, em defesa dos carroceiros e donos de jegues. Na matéria também ressaltam que Moisés Cafezeiro foi buscar no dia anterior a este, a liberação do veículo que transportará o jegue pagode durante o desfile. Um carro de som estará à frente, em que terá um microfone aberto para as pessoas opinarem sobre a situação dos animais, se o povo quer ou não os animais na festa.

Na matéria secundária “Reforço” o jornal mostra que aos poucos os donos dos animais vão ganhando apoio. Artistas de grande destaque também entraram na briga em favor dos carroceiros. Como é o caso da cantora Margareth Menezes, que em entrevista ao Jornal diz que a participação dos jegues na festa deve sim ser permitida, mas ela afirma que os animais devem ter um bom tratamento para que não fiquem tão debilitados após os 8 km de percurso.

E também retrata um aspecto muito importante em que à mesma diz que a batucada, as baianas e os bichos na festa são manifestações populares. Que se os bichos forem retirados, assim como aconteceu com as barracas nas festas populares, vão perder a essência cultural.

A festa que é de caráter totalmente popular, sem os bichos, ficaria padronizada assim como fizeram com a criação do Bonfim Light em 1998, que foi por causa da retirada das barracas populares que criaram a festa no Bahia Marina, fazendo com que a festa ficasse voltada mais para a elite da sociedade, tornando-se um verdadeiro carnaval fora de época, enquanto a festa era para ser religiosa.

Outra questão que também merece grande destaque é a entrevista dada pela diretora de teatro Aninha Franco, que retrata na matéria que nem o próprio Senhor do Bonfim estaria gostando dessa história, que o povo está esquecendo a manifestação de fé no padroeiro da Bahia e que estão só pensando no lado profano da festa, que o lado sagrado está sendo deixado de lado.

Franco enfatiza que precisa de mais humanidade nas pessoas, pois tanto os homens quantos os jegues sofrem maus tratos, dificuldade durante todo ano e porque no dia de uma manifestação de fé, que já vem ao longo de gerações tem que ser retirada da festa. Na matéria ela enfatiza que acha uma verdadeira bobagem essa discussão sobre os jegues na festa.

O jornal também entrevistou o antropólogo Roberto Albergaria, que todo ano na festa faz o famoso casamento anual entre o “jegue de cueca” com a “jega de calçola” no Bairro do Uruguai, que é um evento pré-carnavalesco que há anos acontece no desfile do Senhor do Bonfim. Albergaria afirma que os ambientalistas estão se aproveitando dessa situação para a exposição na mídia.

O jornal Correio da Bahia nesta matéria deixa bem claro que o jornalista Alexandre Lyra que assinou a matéria fez uma grande investigação sobre a festa do Senhor do Bonfim, onde mostra todos os fatos da festa que até então muitos leitores não haviam conhecido.

Neste enquadramento percebemos que o Jornal Correio da Bahia deu um grande destaque à luta dos carroceiros e dos donos de jegue. As matérias e entrevistas realizadas fizeram com que a reportagem tivesse uma grande riqueza de detalhes, em que o leitor pode perceber o que realmente estava acontecendo com essa grande discussão acerca dos animais na festa.

O jornal destacou ainda, a situação dos jegues, assim como na matéria do dia 7 e 8 de janeiro deram destaque a questão do desfile e não deram quase nenhum destaque ao lado sagrado da festa do maior padroeiro da Bahia, a matéria do dia 11 de janeiro também destacava mais a situação da liminar com o desfile dos animais.

Enquadradamento do Correio da Bahia sobre a Lavagem do Bonfim nas matérais do dia 8 de janeiro


Na matéria do dia 08 de janeiro de 2011, cinco dias antes da festa do Senhor do Bonfim, no caderno Mais, páginas 24 e 25, o jornal fez uma matéria do jornalista Alexandre Lyrio, cujo título “Donos de jegue contra – atacam” tem um relevante destaque. Nesta matéria o jornal evidência o lado dos donos dos animas, reivindicando a não proibição da participação dos animais na festa.

Na matéria secundária “Carroceiros se unem para barrar ação que tira os animais do Bonfim” o jornal deixa bem claro para o leitor que o enfoque principal da matéria são as reivindicações dos carroceiros e donos dos animais.

A matéria começa falando que os donos de jegues, proprietários das carroças, artistas, devotos e até turistas estão contra a ação cautelar que proíbe o desfile dos animais durante a festa. Moisés Cafezeiro, dono do Bloco “Levada de Jegue” e proprietário do jegue “ Pagode” o animal mais famoso durante o desfile, realiza um grande jogo de articulação contra a liminar que proíbe o desfile dos animais na festa.

Na festa do Senhor do Bonfim de 2010, no ano anterior, os ativistas do meio ambiente e a OAB – BA, já tinham elaborado uma ação contra o desfile dos animais na festa, mas não obteram êxito na ação e a ordem foi acatada parcialmente. Conferimos nos arquivos do Jornal Correio da Bahia e vimos que o jornal também fez matérias sobre o assunto.

Na matéria deste ano, no dia 08 de janeiro, Cafazeiro diz que logo cedo pela manhã, já tinha armado uma articulação para acatar a decisão do juiz em proibir o desfile dos animais. Ele reuniu-se com o grupo de Cavaleiros da Ilha de Maré, que é um dos grupos mais antigos a marcar presença na Festa do Senhor do Bonfim, junto com o grupo de Cavaleiros de São Sebastião do Passé que também fez parte da manifestação.

Nessa matéria fica bem claro, que o Correio quis mostrar claramente a manifestação dos donos de jegue X ativistas ambientais e OAB – BA. Cafezeiro, dono do jegue pagode, diz que eles vão elaborar um documento informando ao Ministério Público, OAB e ONG’S sobre os cuidados que eles tomam com os animais durante o trajeto de 8 km percorrido durante a festa, em percurso da Igreja da Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto da Colina Sagrada, onde fica a Igreja do Senhor do Bonfim, padroeiro da Bahia.

A matéria mostra a organização que os carroceiros têm entre eles, muitos deles alegam que fazem parte do seu “ganha – pão” a Festa do Senhor do Bonfim, que cada aluguel da carroça é R$ 250 e que muitos carroceiros dependem desse dinheiro e que muitos deles já até receberam pelo pagamento dos aluguéis das carroças, muito antes da festa ser realizada.

O Correio da Bahia nesta matéria favorece de maneira positiva a ação dos donos de jegue da festa, mostrando que eles realizam o desfile dos animais de uma maneira organizada, dentro das leis municipais, onde eles afirmam que não são baderneiros e que nunca machucaram e nem maltrataram os animais.

Na matéria tem um olho do Sr. Moisés em destaque, em que ele fala que precisaria de uns 500 policiais montados para tirar tantos carroceiros da festa. Na matéria também entra em destaque que a Saltur (Empresa de Turismo de Salvador), afirma que não sabe o certo a quantidade de carroças que tem na festa, mas aponta uma questão muito interessante na matéria.

Em que muitos carroceiros de até outras cidades como Lauro de Freitas, Alagoinhas, Simões Filho e Feira de Santana e também fiés da cidade baixa e subúrbio ferroviário também comparecem ao desfile, a Saltur afirma que existem mais de 200 carroças cadastradas durante o percurso, mas que existem várias que vão de forma clandestina.

O jornal evidenciou nesta matéria uma questão muito importante, em que as pessoas só pensam na festa, mas não se dá conta de todo o aparato que a cidade tem que fornecer para a segurança pública durante o evento. Outra questão importante que o jornal retrata é que muitos artistas juntaram-se com os carroceiros.

O cantor Gerônimo, que é um dos artistas que tradicionalmente participam da festa do Bonfim, em uma maneira de mostrar a sua insatisfação contra a decisão do Juiz em proibir o desfile dos jegues, o cantor afirma que vai este ano para a festa com três carroças, 50 percursionistas e 200 integrantes do bloco Orishalá.

O cantor ainda alfineta os ativistas ambientais dizendo que eles teriam que preocupar-se mais com as crianças que fumam crack durante a festa, do que com os animais que desfilam na festa, pois segundo ele, esses animais nasceram com resistência física natural para puxar carroça e andarem quilômetros de distância carregando peso.

Já o padre Edson Menezes, pároco da Igreja do Bonfim, também entrevistado na matéria, defende a presença dos animais, mas deixa claro que recrimina qualquer mau-trato, castigo sofrido pelo animal durante o trajeto da festa. Segundo o pároco os animais devem ser preservados na festa, pelo falto de ser uma tradição de anos, ele acha que não devem proibir uma tradição de anos, mas desde que não haja nenhum mau trato aos animais.

O Jornal também destaca na matéria, que no dia anterior, 07 de janeiro de 2011, na primeira sexta – feira do ano, onde tradicionalmente reza-se uma missa na Igreja do Bonfim, muitos fiéis colocaram-se contra a decisão de impedir o desfile dos jegues na festa do Senhor do Bonfim. Eles reclamaram que a cada ano as pessoas vão acabando com a tradição da festa, que o povo baiano vai perdendo a sua fé com uma tradição que é secular na cidade. Eles alegam que os carroceiros não maltratam os animais, que eles têm resistência física para percorrem os 8 km até a colina sagrada.

O jornal também destaca na matéria, que naquele mesmo dia, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ajuizaria no Plantão Judiciário uma ação cautelar para impedir a presença dos animais na festa.
O argumento apresentado pela OAB é de que os bichos sofreriam um grande estresse durante a festa, um esforço desmedido, seriam submetidos a sons estridentes que fariam mal aos animais. Os ambientalistas também citam um documentário titulado de “Os animais da Terra da Felicidade” produzido em 2010 mostrando maus tratos dos animais em participações de eventos públicos, sendo o grande triunfo que eles teriam contra os carroceiros que serão apresentados no processo como prova.

Na matéria secundária “MP fiscalizará maus-tratos na lavagem”, onde o Ministério Público promete fiscalizar os maus-tratos dos animais na festa, o promotor substituto da 2° Promotoria do Meio Ambiente Antonio Leal, afirma que caso a presença dos animais seja liberada ele enviará a festa técnicos de órgãos para servir de fiscais de prefeitura e de proprietários de bichos. No ano passado, o MP liberou a presença dos animais com a condição de o município punir no ato, situações onde haveria maus-tratos com os animais.

O que percebemos durante análise do enquadramento desta matéria do dia 08 de janeiro de 2011, é que a grande “novela” entre os donos de jegues, ativistas ambientais, MP e OAB tiraram totalmente o foco da Festa do Senhor do Bonfim. O Jornal Correio da Bahia deu um grande destaque a discursão, mas pouco mostrou ou quase nada mostrou sobre a festa do Senhor do Bonfim. Mas em breve pesquisa feita pelas docentes nos anos anteriores, o Jornal também deu um grande destaque a questão do embate da proibição dos animais na festa.

Enquadramento do Correio da Bahia sobre a Lavagem do Senhor do Bonfim no dia 8 de janeiro

Na análise da principal matéria referente à Lavagem do Bonfim, da edição do jornal do dia 7 de janeiro, observamos que a questão levantada foi à participação ou não dos jegues, cavalos e outros quadrúpedes na festa, em 2011, realizada dia 13.

Segundo dados do texto de Alexandre Lyrio, as ONGs Terra Verde Vida, Célula Mãe e Animal Viva, com a comissão de direitos dos animais da OAB-BA, consideraram que se os bichos participassem do festejo seriam submetidos a um grande estresse, além de esforço físico, sons, açoites e alta temperatura. Foram considerados culpados, Prefeitura de Salvador e Saltur. O lado religioso foi esquecido, tirando o foco do ato de os fiéis irem até a Colina Sagrada, no Bonfim.

A foto de um jegue enfeitado ilustrava a reportagem. Na legenda estava escrito - Presença dos enfeitados quadrúpedes está novamente ameaçada na Festa do Bonfim. Uma demonstração que o tema relevante dizia a respeito aos animais. Nesta primeira reportagem, intitulada Será que agora dá Zebra?, A guerra dos ambientalistas/OAB X Prefeitura/Saltur foi colocada em evidência.

Um dos artifícios usados pelos defensores dos bichos era a utilização do documentário Os Animais na Terra da Felicidade, que mostra imagens do festejo do ano passado. Com isso, os ambientalistas queriam comprovar a falta de fiscalização, e que os maus tratos eram evidentes. Uma ação civil pública foi impetrada para obter êxito na proibição dos bichos, tendo como réus a Prefeitura e a Saltur.

Ao ler o texto, percebemos que a preocupação no tratamento é com os animais na tradicional festa. Enquanto, a importância do ato religioso em si não foi questionada em momento algum no texto referido.

O outro lado da história da participação dos quadrúpedes na festa do Bonfim teve um pequeno destaque na edição do dia 7 de janeiro. Sob o título Isso é moral de jegue, a matéria secundária trata do posicionamento dos proprietários de carroças e donos de eqüídeos, diferentemente do texto principal, que só levou em consideração a luta dos ambientalistas contra os possíveis maus tratados aos animais.

Foi levantado o tradicionalismo das carroças na festa como folclore no Estado. Os carroceiros consideraram o impedimento um absurdo, até mesmo porque a história de prêmios com a ajuda dos animais não é esquecida pelos antigos participantes.

Ao contrário do que os ambientalistas tentaram demonstrar com o documentário, Valter Lesa, carroceiro citado na matéria, afirmou que nunca viu nenhum animal sendo mau tratado que lhe chamasse atenção. O carroceiro relata que a proibição é um insulto ao folclore baiano. Algo compreensível, por ser um tema do seu próprio interesse.

O dono do jegue Pagode, Móises Cafezeiro, também participou da reportagem como incentivador de uma reunião entre carroceiros e cavaleiros de todo o Estado, sob a alegação de tentar reverter liminar dos ambientalistas.

Os donos dos animais se organizavam para construir documento declarando que o tratamento dado aos quadrúpedes é correto. Ao informar que oferecem água para os animais beberem, os proprietários dos jegues e carroças visam se eximir de qualquer responsabilidade apontada pelos antigos participantes.

Ao contrário do que os ambientalistas tentaram demonstrar com o documentário, Valter Lesa, carroceiro citado na matéria, afirmou que nunca viu nenhum animal sendo mau tratado que lhe chamasse atenção. O carroceiro relata que a proibição é um insulto ao folclore baiano. Algo compreensível, por ser um tema do seu próprio interesse.

O dono do jegue Pagode, Móises Cafezeiro, também participou da reportagem como incentivador de uma reunião entre carroceiros e cavaleiros de todo o Estado, sob a alegação de tentar reverter liminar dos ambientalistas.

Os donos dos animais se organizavam para construir documento declarando que o tratamento dado aos quadrúpedes é correto. Ao informar que oferecem água para os animais beberem, os proprietários dos jegues e carroças visam se eximir de qualquer responsabilidade apontada pelos ambientalistas.

Ao relatar o sofrimento dos animais Os Animais na Terra da Felicidade, mesmo em tamanho menor em relação às outras, o texto trata com riqueza de detalhes o que é passado pelos jegues, mulas e cavalos no percurso da Festa do Bonfim.
O filme relata, em 22 minutos, os excessos cometidos contra os puxadores de carroças, além conter depoimentos de juristas, advogados, veterinários, criadores de animais e da própria população.

Nas primeiras matérias desta edição, não é observada que o lado de cada um dos interessados na briga: ambientalistas/OAB X Prefeitura/Saltur/proprietários dos animais está separada. No entanto, o tema em questão, o tratamento dado aos animais, só é bem discutido em uma matéria sem destaque – Maus tratos em vídeo.

Conceito da teoria do enquadramento


A primeira contribuição considerada mais relevante do conceito de enquadramento na comunicação foi dada por Tuchman (1978). As notícias são um recurso social cuja construção limita um entendimento analítico da vida contemporânea. (TUCHMAN apud PORTO, 2004a, p. 79). O enquadramento imposto pelas notícias é definido e construído pelos fatos reais.

Ainda em formação, a teoria do enquadramento, frame ou framing, tem como objetivo estudar a forma que os meios de comunicação de massa enquadram para os receptores o conteúdo agendado pela mídia. Tudo isso é feito por meio dos jornalistas na escolha dos temas durante a construção de seus textos.

O conceito de enquadramento é um avanço considerável na análise de conteúdo das mensagens da mídia e das notícias (GUAZINA apud BRITO, 2007, p. 19).

Os enquadramentos são princípios de organização que governam os eventos sociais e nosso envolvimento neles (GOFFMAN apud PORTO, 2004a, p. 78).

Para Goffman (1986), enquadramentos funcionam como marcos interpretativos mais gerais, que são construídos socialmente permitindo que as pessoas deem sentido aos eventos e as situações socais (PORTO, 2004a).

Gutmann (2006) explica como o conceito de framing tem sido usado para argumentar de que maneira os enquadramentos dados aos temas agendados pela mídia impactam nos quadros de referência utilizados pelo público na interpretação dos assuntos. Segundo a definição de Shen (2004), a opinião pública e suas interpretações sobre eventos agendados pela mídia podem ser moldadas pelo enquadramento (IYENGAR apud GUTMANN, 2006, p. 31).

O enquadramento deve ser considerado como um instrumento para que o papel da mídia na construção do que é real possa ser examinado de forma
empírica (TANKARD apud PORTO, 2004a, p. 76). A partir da idéia de que o framing envolve seleção e ênfase, Entman (1993) afirma que enquadrar é eleger alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, promovendo uma definição de problema particular, interpretação causal, avaliação moral e/ou um tratamento recomendado para o item descrito.

Para o autor, “o enquadramento de uma notícia é realmente uma impressão de poder”, ou seja, o framing armazena a identidade dos autores ou dos interesses que competiram no ato de dominar o texto (ENTMAN, 1993, p. 5).

Os esquemas de processamento de informação, a exemplo da construção do conteúdo jornalístico através de uma “embalagem” particular, são caracterizados pelo framing (ENTMAN apud GUTMANN, 2006, p. 52).

Correia (2011) aponta o formato de enquadramento usado por alguns profissionais de comunicação: o enquadramento estratégico. Políticos, bloggers, editoralistas e líderes de opinião são apontados utilizam a estratégia do enquadramento como forma de execre poder e influenciar sobre as audiências para elas aceitarem as interpretações para favorecer seus interesses e objetivos. (CORREIA, 2011, p. 51).

Com amplas definições do enquadramento, Gitlin (1980) destaca de forma clara e sistemática o seu conceito para a teoria (apud PORTO 2004a, p. 80):

Os enquadramentos da mídia [..] organizam o mundo tanto para os jornalistas que escrevem relatos sobre ele, como também, em um grau importante, para nós que recorremos às suas notícias. Enquadramentos da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o discurso, seja verbal ou visual, de forma rotineira. (GILTLIN, 1980, p7) (tradução do autor).


O jornalista tem o poder nas mãos ao transmitir um acontecimento ao público. Entman (1993) determina quatro funções para o enquadramento: definir problemas, diagnosticar causas, fazer julgamentos morais e sugerir soluções. “Os comunicadores fazem enquadramentos intencionalmente ou inconscientes decidindo o que dizer, guiados pelos frames (chamados frequentemente esquemáticos) que organizam seus sistemas de opinião” (ENTMAN, 1993, p. 52). “O enquadramento determina se a maioria das pessoas percebe e como elas compreendem e lembram de um problema, da mesma forma que determina a maneira que avaliam e escolhem a forma de agir sobre ele” (ENTMAN apud GUAZINA, 2001, p. 275).

Correia (2011) considera que os enquadramentos (frames) são avaliados com o auxílio das analogias dos enquadramentos na imagem (fotográfica, cinematográfica, etc). Para o autor, a escolha da inclusão ou a exclusão desses mecanismos ajudam no enquadramento dado pelos veículos. O enquadramento é usado como um tipo de mensagem para ordenar ou organizar a percepção do observador (CORREIA, 2001, p. 49).

Colling (2002) considera que o poder do framing analisado por Entman (1993) é a forma de pensar o mundo, o que faz o enquadramento ser uma ferramenta empregada por aqueles que têm poder para transmitir o seu jeito de pensar para os demais. Para o autor, o framing é como temos que pensar os temas já estabelecidos pela agenda.

Outros elementos também devem ser analisados no estudo do framing, a exemplo dos atores envolvidos, além de quem tem o poder de resolver o problema, palavras-chave, conceitos, símbolos e imagens visuais que estão presentes nos textos jornalísticos (COLLING, 2002, p. 115).

Duas classificações de enquadramento são sugeridas por Porto (2004b, p. 69): o interpretativo e o noticioso. Para ele, pode se considerar como interpretativo quando padrões de explicação de temas e/ou eventos políticos a partir de agentes sociais e políticos externos à prática jornalística são avaliados de maneira particular. A mídia pode ou não incorporar as interpretações em um contexto mais amplo.

O enquadramento identificado como noticioso configura aos padrões de apresentação, seleção e ênfase feitas pelo jornalista nos textos jornalísticos. Ao analisar coberturas de campanhas de jornais, o autor observou que a classificação proporciona uma reflexão para descobrir em que medida a mídia enfatizou temas ou se concentrou nas estratégias dos candidatos e nos resultados de pesquisa de intenções de voto (PORTO, 2004b, p. 71).

O autor afirma que,

o conceito de enquadramento permite entender o processo político como uma disputa sobre qual interpretação prevalecerá na formação, desenvolvimento e resolução de controvérsias políticas. O conceito permite ainda ressaltar como estas controvérsias se desenvolvem, não através da apresentação de “fatos” ou “informação”, mas sim através de interpretações que são utilizadas para avaliar estes eventos ou temas políticos (PORTO, 2002, p. 93).

Para o pesquisador, no Brasil, o enquadramento é utilizado diversas vezes pelos estudiosos com o intuito de fazer uma análise das relações entre mídia e política, a exemplo de coberturas e campanhas eleitorais, além da mídia e movimentos sociais comparando o jornalismo político brasileiro com o feito em outros países.

Cinco elementos são destacados na identificação do enquadramento durante uma reportagem – palavras-chave, metáforas, conceitos, símbolos e imagens enfatizadas na narrativa jornalística (Entman apud Gutmann, 2006, p. 32). No telejornalismo, essas características são mais evidentes, quando o framing pode ser identificado pela observação de imagens visuais, além exposição de palavras repetidas no texto midiático com o objetivo de deixar mais visíveis algumas idéias no lugar de outras.

O campo da psicologia cognitiva também é outra fonte importante sobre enquadramento. Kahneman e Tversky (apud PORTO, 2002a, p. 79)conduziram os conceitos atribuindo que as mudanças na formulação de problemas podem causar variações significativas nas preferências das pessoas. Eles sugerem que a manipulação da informação factual e o enquadramento dado às informações podem alterar os resultados no processo de formação de preferências.

O impacto dos framings da mídia, na forma da interpretação e da discussão feita pelo público, é objeto de estudo de diversos pesquisadores, como Gamson e Modigliani (apud GUTMANN, p. 35). Segundo os autores, a
quantidade de dispositivos utilizados no conteúdo midiático contribui para indicar a existência da embalagem do fato reproduzido para a audiência. “As notícias televisivas são repletas de metáforas, frases de impacto e outros símbolos destinados a oferecer um modo mais curto e frágil de construir a narrativa” (GAMSON e MODIGLIANI, 1989, p. 153 apud GUTMANN, 2006, p. 35).

Becker (2006) considera que a questão da democratização de um país não se coloca apenas na esfera da agenda oficial, também se evidencia na força de organização e expressão de grupos e movimentos sociais. O campo da comunicação transcende os estudos dos meios e pode produzir um conhecimento específico sobre a sociabilização e a produção de sentidos na atualidade, decorrente dessa nova realidade histórica. Os serviços da indústria da comunicação, a regulação da mídia e as novas tecnologias de informação deveriam atender prioritariamente ao interesse público, privilegiando o conhecimento e não apenas o mercado. Se os cidadãos não têm acesso à diversidade de opiniões e interpretações, o dilema da democracia não tem solução.

Porto (2002) divide o enquadramento em quatro tipos de enquadramento que permitem identificar como a mídia “contribui para privilegiar determinadas interpretações hegemônicas da realidade”: o restrito, os plurais - aberto e fechado - e o episódico. (PORTO, 2004b, 70). Para o autor, esta análise funciona de maneira sistemática a recepção e os efeitos do enquadramento (PORTO, 2002, p. 97).

Para o enquadramento ser considerado restrito, o texto tem uma única interpretação do veículo de comunicação sobre o fato. Plural-fechado quando tem mais de uma interpretação e uma delas ser privilegiada e apresentada como mais correta. No casal de plural-aberto, são apresentadas mais de uma interpretação, sendo que nenhuma das opções são confirmadas como mais válida (correta). O enquadramento é episódico no momento em que ocorre o texto não possui interpretação. Neste caso, o texto se limita em relatar o fato apenas. O estilo escolhido é o descritivo. (PORTO, 2002, p. 93).

Breve histórico do Correio da Bahia


O Correio da Bahia é um jornal diário que circula em Salvador, fundado oficialmente por Antônio Carlos Magalhães em 20 de dezembro de 1978. Mas, o veículo começou a circular apenas em janeiro. Faz parte do mesmo grupo responsável pela Rede Bahia¹ de Televisão.

Em 2010, foi considerado o segundo na preferência dos leitores baianos, ficando atrás do jornal A Tarde². Segundo o IVC, o Correio da Bahia teve 34.681 de média de circulação por exemplar, uma alta de 77% em relação ao ano anterior. O aumento se iniciou com as mudanças. No final de agosto de 2008, quando passou a ser denominado de apenas Correio, o impresso foi redesenhado com uma reforma gráfica e editorial.

O formato do jornal passou de standard para berliner. Atualmente, apresenta conceitos mais modernos do jornalismo mundial, com páginas 100% coloridas e paginação contínua. A nova estrutura também se relaciona com o Correio da Bahia online, ou seja, em uma plataforma digital, o site www.correio24horas.com.br obtém o mesmo rigor editorial do impresso.

A primeira proposta editorial do impresso era de ser um jornal limpo, objetivo e honesto (TEIXEIRA apud Brito, 2006, p. 11). O objetivo nos primeiros anos de circulação era atrair leitores (público), com predominância de ilustração.

Nos primeiros meses de circulação, o jornal obteve tiragem de 36 mil exemplares por dia por seguir uma proposta de cobertura política discreta, buscando se firmar no mercado. Após a primeira mudança editorial, no final de 1979, o veículo passou por alterações, reduzindo a tiragem para 11 mil.

A imagem de ACM sempre foi muito forte. O Correio nasceu como porta voz do fundador do jornal, tendo como identidade marcante política e favorável às idéias e interesses dele, de acordo com o diretor de redação do jornal Demóstenes Teixeira (LIMA apud BRITO, 2006, p. 12). Para ACM, o objetivo era promover, abertamente, a imagem dos candidatos que eram filiados ao político.

O jornal passou por algumas mudanças ao longo dos anos. Com o intuito de abandonar a postura ofensiva adotada, no final dos anos 80, ocorreu a primeira. Em 1990, com a segunda alteração editorial, ampliou a cobertura para o nível nacional.

Com o slogan “acima de tudo informação”, em 1993, o Correio teve mais uma transformação editorial. Foi feita uma campanha em rádio, TV, jornais e outdoors, para atrair e agradar o público. Também foi lançado o caderno Folha da Bahia, composto com matérias sobre arte, cultura e lazer. O objetivo era oferecer novas opções aos leitores, além de se fortalecer no mercado da Bahia. (TEIXEIRA apud Brito, 2006, p. 13).

¹Rede Bahia é um grupo empresarial composto por 14 empresas, que atua dentro e fora do Estado nas áreas Mídia, Conteúdo e Entretenimento, Desenvolvimento de Novos Negócios, além do setor de Construção Civil.

²O jornal A Tarde foi fundado em outubro de 1912. Obteve uma média de 42,2 mil exemplares, no consolidado do ano de 2010, de acordo com o IVC, ficando em primeiro lugar em circulação na Bahia até agosto.

FESTA DO SENHOR DO BONFIM X BONFIM LIGHT


Paralelo aos festejos religiosos da Festa do Senhor do Bonfim, existe a festa "profana", marcada pela presença de barracas de comidas típicas e bebidas, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da praia até o alto da Colina Sagrada. Baianos e turistas fazem a caminhada até o alto da colina em ritmo de festa.

Mas em 1998, a parte carnavalesca da festa sofreu uma intervenção imposta pela Prefeitura Municipal e pela Arquidiocese de Salvador que, numa tentativa de defender as tradições históricas da festa, promoveram um afastamento dos trios elétricos e caminhões de blocos alternativos que acompanhavam o cortejo desde a Avenida Contorno, muitas vezes sequer chegando à metade do percurso e de certa forma desviando e desvirtuando o caráter religioso do dia, promovendo um mini-carnaval com direito a todos os excessos que lhe são peculiares.

Como alternativa para os foliões e empresas envolvidas na promoção da parte profana da festa, empresários no meio do entretenimento baiano junto com a Prefeitura de Salvador criaram o Bonfim Light.

A festa que acontece todo ano no Bahia Marina, local privilegiado de Salvador, conta com cerca de 50 mil foliões, tornando-se um verdadeiro carnaval antecipado em Salvador.

O Bonfim Light virou um evento turístico, com altos investimentos e atraindo mais turistas do que a própria festa religiosa do Senhor do Bonfim. Um dos destaques da festa é a banda de axé baiana, Asa de Águia. Todo ano a banda tem presença marcada, sendo o anfitrião da Festa.

Os ingressos têm valores altíssimos que variam de R$ 100,00 (pista) até R$ 400,00, valor do camarote, na mão de cambistas.

Com a criação do Bonfim Light ouve uma melhora na festa profana, pois as pessoas até 1997 ficavam no meio da rua, bebiam, aconteciam muitas brigas, crimes, assaltos. Com o Bonfim Light amenizou um pouco a “baderna na rua”.

Só que o Bonfim Light trouxe para a tradicional festa do Senhor do Bonfim um grande problema: a desvalorização dos jovens de Salvador, pelo padroeiro de sua cidade. Hoje os jovens de Salvador e turistas não dão importância a grandiosidade que é a Festa do Senhor do Bonfim e sim, ao Bonfim Light, onde estão as maiores bandas de axé da Bahia.

O Bonfim Light para os jovens, está marcado na agenda da cidade das festas pré-carnavalescas. Até turistas vem a Salvador, em busca de ver a banda Asa de Águia no Bonfim Light e não para conhecer a tradição do padroeiro baiano.

O que se vê hoje em dia na Festa do Senhor do Bonfim são as pessoas mais velhas, antigas, acompanhando a tradição de fé ao subir a colina sagrada e em contraposto os jovens participam da parte profana, que é o Bonfim Light.

Um breve histórico da Lavagem do Bonfim

A homenagem ao Senhor do Bonfim é muito antiga na Bahia, embora haja controvérsias sobre sua origem portuguesa ou africana. Esta cerimônia acontece na segunda quinta - feira do ano em Salvador. Um imenso cortejo de devotos percorre dez quilômetros de Salvador, partindo do Largo da Conceição até o Largo do Bonfim. Baianas vestidas a caráter trazem moringas e potes cheios de água perfumada para a lavagem simbólica das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim (MENDES, 2007).

Atualmente, cantos e hinos religiosos misturam-se ao som dos trios elétricos na festa, que é o maior exemplo do sincretismo religioso na Bahia, pois o ritual homenageia também Oxalá (Obatalá), que no candomblé é identificado como o Senhor do Bonfim. Os participantes bebem, comem e se divertem durante o percurso, antecipando o carnaval de rua de Salvador (MENDES, 2007).

A lavagem do Senhor do Bonfim é um momento de festejo religioso popular envolvendo várias camadas da sociedade baiana e de presença marcante de africanos e seus descendentes. Considerando “[...] que a relação com o sobrenatural e todas as crenças e cerimônias necessárias para que ela se estabeleça são formas de religião, podemos dizer que esta era um elemento central da festa [...]” (Souza, 2005, p. 45 apud MENDES, 2007).

A religiosidade é uma forma encontrada por homens e mulheres de construírem códigos, regras e leis que lhes possibilitem garantir a sobrevivência e a manutenção de seu grupo. A cultura tem dinâmica própria e acontecem de formas variadas de acordo com o grupo cultural, contexto histórico, político e social em que se vive (MUNANGA, 2006, apud MENDES, 2007).

A capela do Senhor do Bonfim começou a ser construída em 1745 e foi inaugurada no mesmo ano. Originalmente a igreja era lavada por escravos, permitido em um ato singelo da Igreja aos escravos. Aos poucos o ato da lavagem se popularizou e se transformou numa festa, mobilizando milhares de pessoas. O culto ao Senhor do Bonfim começa a assumir extraordinária importância em Salvador (MENDES, 2007).


Segundo Soares (apud MENDES,2007) a festa teria se originado do culto a Oxalá. Essa era uma cerimônia realizada às escondidas e fora da cidade, devido às perseguições por parte das autoridades. Com o retorno dos Voluntários da Pátria este ritual teria sido juntado ao da lavagem, por gratidão, por estes negros e mestiços, dando notoriedade, no espaço urbano, ao culto a Oxalá.

Para Mendes (2007), a tradição da lavagem teria assumido tais características devido à promessa de um soldado que lutou na Guerra do Paraguai. A autora considera que este tipo de promessa religiosa era comum na cultura luso-brasileira.

A festa do Senhor do Bonfim teve seu começo no mês de janeiro. Iniciava-se no segundo domingo depois do Dia dos Santos Reis. Na quinta-feira anterior ao início da novena acontecia a lavagem do santuário. Era organizada pela igreja e os escravos dos senhores da região faziam a lavagem da capela. A partir do século XIX, principalmente de meados do século, a festa assumiu características diferentes, tendo uma maior participação de negros que implantaram seus costumes.

Os negros pediam permissão para fazerem parte da festa do Senhor do Bonfim utilizando seus instrumentos e cantando em suas línguas maternas (VERGER, 1987, apud MENDES, 2007)).

Os nagôs, que no século XIX, formavam a maioria dos escravos baianos, celebravam em suas terras o culto ao Orixá criador, a quem atribuíam à condição de filho do Deus supremo e o status de Pai Soberano entre as outras divindades. (VERGER, 1987, apud MENDES, 2007)).
Prestavam-lhe um culto especial em colinas fazendo procissão com potes de águas para lavagem do lugar sagrado. O Senhor do Bonfim, orago da sagrada colina, de um templo onde se celebrava com escorrer de água um rito periódico, é Jesus Cristo, o filho de Deus, invocado como Pai Soberano de todos os Santos. (SERRA, 1995, apud MENDES, 2007)).

Desta forma, a cerimônia da lavagem do Bonfim trouxe à memória desses escravos nagôs da Bahia os ritos lustrais, praticados por seus antepassados, característicos do culto a Oxalá.

Mas essa memória não é vista aqui como um resgate de um determinado tipo de culto praticado em África. Ela tem uma função social. Ela ocorre no presente e é englobante e hierarquizante, pois nestas festas populares religiosas as comunidades estreitam seus laços e mantêm sua identidade de grupo, celebrando também sua vida cotidiana. É o momento em que esses africanos e afro-descendentes constroem uma identidade coletiva e se reconhecem enquanto comunidade solidária, mesmo que hierarquizada, pois as tensões e conflitos são camuflados (LUCENA, 2004, apud MENDES, 2007).

Esse culto vivo se dá na memória coletiva dessa parcela da população que participa do ritual da lavagem. A memória é um fator importante para se conhecer o passado, segundo Lowental (1998). Para ele, o importante na memória é sua natureza coletiva e o valor do conhecimento que traz. O passado relembrado é ao mesmo tempo individual e coletivo.

Para o conhecimento do passado são importantes os hábitos das pessoas e suas lembranças. As lembranças de uns confirmam e podem dar continuidade às de outros.
A lavagem das escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, que passou a ocorrer no final do século XIX, é uma festa popular e lugar de memória, identidade e comemoração. É um momento de oposição à vida ordinária e excludente da sociedade baiana. (MENDES, 2007).

Mas percebe-se que ao longo dos anos, toda essa tradição história foi perdendo a sua força. Hoje em dia são poucos devotos que ainda tem a tradição de subir até a Colina Sagrada para receber a benção do Senhor do Bonfim. O lado profano da festa ao longo dos anos, foi tirando o foco das pessoas, como acontece hoje em dia com a criação do Bonfim Light em 1998, explicado no tópico seguinte.